OBRIGADO, PORTUGAL !
Ontem
tive um sonho.
Foi um sonho lindo ! Sonhei que
estava em Portugal para receber
uma homenagem da sua
Academia de
Letras e Artes .
Em meu discurso
de agradecimento assim
me expressei : “Sou-te
grato, Portugal, por
tão significativa homenagem,
mas quero que
saibas que nada
me deves pois
muito já me
tens dado .
Nada me deves,
Portugal, pois já me deste
a dramaturgia de
Gil Vicente ; a
poesia transmarina de
Camões e os
sonetos inconfidentes de
Cláudio Manuel da
Costa.
Nada me deves, Portugal, pois
já me deste as
sapatilhas obstinadas de
Rosa Mota, dando
voltas em torno
do estádio da
Luz.
Nada me deves, Portugal, pois já me
deste Sagres, onde
aprendi a singrar
os mares dos
meus sonhos .
Nada me deves,
Portugal, pois já
me deste Coimbra, em cujos corredores respira-se
a cultura secular
através dos ares
do Choupal .
Nada me deves,
Portugal, pois já
me deste José Saramago e
Fernando Pessoa e,
se não bastasse,
foste buscar, no
além-mar, os enredos fantásticos de Mia Couto
para ilustrar os
muitos encantos literários
da tua verve .
Nada me deves,
Portugal, pois já me
deste um abril
cheio de cravos
e, por saberes
que nasci aos treze
de maio, me
deste o Santuário de
Fátima .
Nada me deves,
Portugal, pois já
me deste teus
pastéis de Belém;
tuas bacalhoadas; teus vinhedos
e teus olivais .
Nada me deves,
Portugal, pois já
me deste o Tejo em
cujas margens ouve-se
os lamentos cariciosos dos
teus fados.
Muito me deste,
Portugal, mas se
nada disto me tivesses dado,
ainda assim ser-te-ia
eternamente grato por
me teres dado
a “Última flor
do Lácio”, que
continua cada vez
mais inculta e
cada vez mais
bela.
Assim, do coração, só me
resta dizer-te : obrigado, Portugal ! ”
Foi um sonho lindo !